Em que momento a senhora decidiu enveredar pelos concursos públicos?
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Somente após um ano de formada é que decidi prestar concurso público.
Concluí minha graduação sem definir qual caminho seguir. Sempre me
interessei pelos vários assuntos e aspectos do Direito, fato que gerou uma
certa indecisão. O Direito é muito rico e abre um leque muito grande de oportunidades.
Entendo que hoje os estudantes têm mais acesso à informação sobre as carreiras
jurídicas, o que facilita a escolha ainda durante o curso. Gostaria de
parabenizar este jornal pela oportunidade oferecida aos concursandos.
Quando iniciou seu preparo? Qual metodologia usou?
Comecei a me preparar em 1998. Foi um período difícil em que, por
várias vezes, tive que diminuir o ritmo dos estudos para acompanhar meus
familiares devido a problemas de saúde por eles enfrentados.
Considerei interessante frequentar um curso preparatório para me
direcionar nos estudos. Nesse trajeto, observei a existência de um núcleo de
disciplinas cujo nível de cobrança nos exames era muito alto, então foquei
minha atenção nele. À medida que apresentava um bom domínio dessas matérias, ia
ampliando para outros temas. Outro método eficiente foi a resolução de questões
de provas anteriores.
Que medidas a senhora tomava para enfrentar as matérias em que
tinha mais dificuldade?
Uma forma de medir a eficiência dos estudos é a resolução de questões
de concursos anteriores, conforme já mencionei. Assim, quando notava que não
tinha um bom desempenho num determinado tema, buscava entender o porquê e, se
fosse o caso, adotava outro livro de doutrina ou simplesmente reservava mais
tempo de estudo para aquela disciplina.
Quanto tempo demorou para ser aprovada no primeiro concurso?
Demorei pouco menos de 2 anos. Acredito que esse período poderia
ter sido reduzido se tivesse definido minha opção profissional durante o curso
de Direito. Vejo que os jovens hoje começam a sua preparação muito cedo, antes
mesmo da conclusão do curso.
A Procuradoria do Banco Central sempre foi seu foco principal?
Não, mas por desconhecimento da própria carreira. Durante o curso
de Direito tive uma abordagem voltada para a advocacia privada, Magistratura e
Ministério Público ou para seguir a vida acadêmica. A Advocacia Pública não era
lembrada. Felizmente, essa situação tem sido corrigida. Hoje, os concursos das
quatros carreiras da advocacia pública federal (procurador do Banco Central,
advogado da União, procurador federal e procurador da fazenda nacional) têm
sido muito cobiçados. Credito isso a uma visibilidade maior da advocacia pública
e a um trabalho de valorização da carreira, bem como à melhor compreensão da
grandeza do seu papel constitucional.
As associações de classe têm contribuído para a divulgação das
carreiras, informando a população sobre a importância da advocacia pública. A
APBC, que representa os Procuradores do Banco Central do Brasil, mantém um site
no qual divulga e esclarece a população sobre a carreira e sua forma de atuação.
A senhora sofreu com a cobrança de familiares e amigos em relação à
aprovação?
Nunca sofri cobrança dos meus pais, que sempre me apoiaram em
minhas decisões. Eu me sentia pressionada a dar resultado, não pelos outros,
mas pela consciência de que eu deveria caminhar com minhas próprias pernas,
para que os meus pais pudessem concentrar os seus esforços financeiros na formação
dos meus irmãos mais novos. Além do mais, desejava sentir-me realizada
profissionalmente.
Depois de aprovada, como foi sua rotina de procuradora recém-empossada?
A carreira de Procurador do Banco Central do Brasil exige
conhecimentos bem específicos, por isso há uma preocupação por parte da Procuradoria-Geral
em ministrar curso de ambientação para que os procuradores novatos se
familiarizem com os temas. Também vejo como um ponto positivo na nossa carreira
a existência de um bom banco de dados e a capacidade de cooperação existente
entre os colegas, o que facilitou esse período de adaptação.
Quais são as funções que um procurador do Bacen exerce?
Em linhas gerais, o procurador é responsável pelo assessoramento
jurídico e representação judicial e extrajudicial do Banco Central do Brasil. A
consultoria jurídica é muito rica e muitas vezes se depara com assuntos inéditos,
tanto na jurisprudência como na doutrina. Por ser o Banco Central uma autarquia
reguladora do sistema financeiro nacional, sua Procuradoria analisa emendas
constitucionais e projetos de lei relativos ao sistema financeiro, além de
assessorar a diretoria na elaboração de circulares expedidas pelo Banco Central
e resoluções do Conselho Monetário Nacional. A consultoria se divide em bancária,
de normas, monetária, assuntos internacionais, penal, administrativa, processos
administrativos contenciosos e em regimes especiais. O Procuratório judicial
abrange o acompanhamento de processos judiciais e a propositura de ações de
interesse da Autarquia em todas as instâncias e tribunais superiores. As causas
muitas vezes atingem quantias vultosas e de grande complexidade, exigindo do
profissional constante atualização.
O que deve esperar o concursando na hora de optar por esta
carreira?
Ao optar pela carreira de Procurador do Banco Central ele deverá
ter consciência de que será um advogado público e exercerá uma função essencial
à Justiça. Abraçará uma carreira muito interessante, bem estruturada e
remunerada, com excelentes condições de trabalho, oportunidade de crescimento
profissional e que investe no constante aperfeiçoamento de seus quadros.
Qual foi o momento mais feliz e o mais triste da sua carreira até
o presente momento?
Talvez a luta por conquistar uma melhor remuneração tenha sido a
mais árdua e desgastante. Alguns colegas desistiram e migraram para outras
carreiras, mas os que ficaram têm a satisfação de ver a gradual valorização da
carreira.
As alegrias são muitas. O trabalho do advogado público se traduz
em benefícios para toda a sociedade. As vitórias judiciais representam mais dinheiro
para investimentos públicos. Uma consultoria qualificada previne litígios e
contribui para a celeridade judicial.
Por fim, gostaria de ressaltar o fato de ter sido eleita para
presidir a APBC. É muito gratificante saber que os colegas, por quem tenho
grande admiração pela excelência dos trabalhos desenvolvidos, confiaram a mim e
aos demais diretores a tarefa de continuar esse constante processo de valorização
da carreira.